Suas restaurações infiltram e/ou soltam? Está na hora de saber a diferença entre retenção e adesão

“Doutor, a minha obturação caiu”, diz o paciente desapontado. “A culpa é do material que não aderiu”, responde o dentista.  Nada pode ser pior para a sua reputação do que isso.  Nesta confusão, míster se faz entender o que é adesão e o que é retenção.

Antes da odontologia mergulhar na era da adesão todas as restaurações exigiam o famoso “preparo retentivo”. Os antigos preparos de black propostos para amálgama, dentre outros passos, preconizavam a confecção de paredes convergentes para a oclusal. Era uma forma de se obter retenção. Nas restaurações estéticas anteriores o famoso preparo em “cauda de andorinha” era obrigatório.

CAVIDADES RETENTIVAS

Uma vez condensado na cavidade retentiva e endurecido é praticamente impossível o material sair dali. Todavia, outros problemas permanecem tais como infiltrações e fraturas dentárias, estas últimas devido à pressão do material contra as paredes cavitárias, em decorrência das forças oclusais e da falta de adesão.

Sendo assim, em 1955 Buonocore propôs o ataque ácido do esmalte com infiltração de adesivo resinoso líquido nas porosidades produzidas. Esse método gerou retenção por embricamento mecânico. Alguns autores admitem, inclusive, a formação de adesão uma vez que não se observam infiltrações quando o ataque ácido é bem sucedido.

O CONCEITO DIFERENCIAL

Existe diferença entre retenção e adesão.  Enquanto a retenção tem um caráter mecânico, resultando na  manutenção da restauração ou peça protética na cavidade, a adesão cumpre um papel de fusão com o substrato dentário promovendo selamento da interface dente-material, visando evitar a infiltração.

A ADESÃO EVITA O DESPRENDIMENTO DO MATERIAL?

É difícil responder a isso. Tudo vai depender de onde se fez essa adesão. Se for sobre o esmalte ácido atacado é bem provável que sim. Porém se for sobre uma dentina, é bem provável que não. No esmalte ácido atacado já se comprovou a existência de retenção forte, porém na dentina essa retenção vai depender da quantidade de fibras colágenas presentes e da infiltração do material dentro dos canalículos dentinários. Mesmo assim é improvável que a retenção formada na dentina seja capaz, sozinha, de evitar o deslocamento do material, seja pela relativa facilidade do rompimento das fibras colágenas ou pela pouca infiltração dentro dos canalículos. A adesão e retenção em dentina é muito mais fraca do que no esmalte. Na dentina a melhor retenção é obtida através do preparo.

EM QUAL DEVEMOS CONFIAR? RETENÇÃO OU ADESÃO?

Minha opinião vai ao encontro de ambos. Sempre que conseguirmos combinar os dois teremos a máxima estabilidade e longevidade de uma peça protética fixa ou restauração. Quando nos anos 90 passou-se a se dar menos importância ao preparo do que à adesão, os resultados foram ruins. Minha experiência clínica mostrou aumento das falhas por desprendimento das restaurações. Deduzi que isso se devia à falta de preparos retentivos. Quando resolvi combinar ambos os métodos (retenção com adesão) os resultados melhoraram formidavelmente.

RESUMINDO

Retenção sem adesão = estabilidade da restauração mas com possibilidade de infiltração.

Adesão sem retenção = infiltração inibida mas com possibilidade de desprendimento da restauração.

Adesão com retenção = estabilidade da restauração com inibição da infiltração.

Hoje preconizo preparos retentivas sempre, inclusive para ancoragens de pinos de fibra de vidro, veja aqui como fazer: https://youtu.be/SP3f_jF2nxg

Nos próximos posts falaremos sobre como é a retenção mecânica em preparos para coroas, que são expulsivos, e como podemos aumentar essas retenções.

Está com dúvidas? Escreva pra mim: sac@superdont.com.br

Seja sempre bem vindo ao meu blog! Toda semana uma novidade para você.

*O autor é professor de Dentística Restauradora, pesquisador e desenvolvedor de tecnologias inovadoras em odontologia. Sócio-fundador da Superdont Ind. e Com. Ltda, responde pela Pesquisa e Garantia da Qualidade na empresa.  Desenvolveu diversos materiais odontológicos inovadores e protocolos cínicos. É autor dos livros “Odontologia com Fibra –  Atlas de Compósitos Reforçados, 2003″  e Odontologia com Fibra – Guia Prático de Aplicações Clínicas”, 2011″. Possui mais de 1000 palestras ministradas em todo o Brasil.”

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