Sensibilidade pós operatória em restaurações de resina – suas causas e como prevenir

Por Izio Mazur

Provavelmente jamais conseguiremos determinar toda a etiologia do problema, mas dentre elas enumero aquelas que consigo lembrar:

  • Trauma oclusal
  • Trauma do preparo
  • Sensibilidade do adesivo
  • Uso de broca cega
  • Má refrigeração do corte
  • Hibridização dentinária insatisfatória
  • Proteção pulpar deficiente
  • Cavidade profunda
  • Fatores intrínsecos do hospedeiro
  • Vedação incompleta das margens
  • Polimerização deficiente do adesivo
  • Tipo de dentina presente
  • Idade do paciente
  • Contração de polimerização da resina/adesivo
  • Inclusão de bolhas de ar na restauração.

A sensibilidade pode ter origem pulpo/dentinária ou periodontal. A origem dentinária pode ser explicada pela teoria hidrodinâmica onde ocorre movimentação de fluídos através dos canalículos, gerando dor. Está diretamente relacionada às condições do preparo e da restauração. Já a origem periodontal pode ser decorrente dos grampos do isolamento, que podem agredir a gengiva ou mesmo empurrar o elemento, gerando uma resposta dolorosa oriunda dos ligamentos periodontais, ou mesmo de uma restauração prematura e/ou com interferências oclusais que exercem pressão não fisiológica ao periodonto. O trauma oclusal também pode exercer pressão sobre a dentina, através da restauração, movimentando os fluídos, sendo portanto uma condição dentinoperiodontal.

O profissional não deve se frustrar diante de uma sensibilidade pós operatória pois esse fenômeno é relativamente comum. Pense que assim como a pele fica dolorida após ser cortada, a dentina também está sujeita ao mesmo fenômeno, afinal possui terminações nervosas e o simples trauma do preparo já predispõe à dor que pode ou não ser prolongada. Sobre o uso do ácido em dentina, recomendo não mais do que 20s de aplicação, e equivoca-se quem pensa que utilizando um adesivo autocondicionante estará livrando a dentina de um ataque ácido. Saiba que tais adesivos possuem um pH ácido na sua fase monomérica que age como um ataque ácido, ainda que mais suave, porém alguns profissionais têm relatado menor sensibilidade.

Portanto, minhas sugestões para prevenção são as seguintes:

  1. Use sempre uma broca nova sob intensa refrigeração a fim de gerar o mínimo de calor. Mais vale usar brocas mais baratas e novas, e descartá-las em seguida, do que brocas caras que você reprocessou por diversas vezes e não sabe se está cortando bem sem gerar calor.
  2. Procure polimerizar bem seu adesivo e a resina. O monômero residual, produzido pela incompleta conversão do material, costuma agredir o complexo dentina/polpa e é mais resultante da má polimerização do que da marca do material.
  3. Use o adesivo de sua preferência dentro da técnica preconizada pelo fabricante. Não invente! O fabricante estudou muito o assunto antes de recomendar um protocolo e isso vale para qualquer material. Existem muitas marcas e muitos tipos de adesivos. Leia sempre as instruções de uso!
  4. Forramento cavitário. No meu livro há um capítulo exclusivo sobre o assunto onde mostro o meu protocolo. Há outros e eu respeito. Hoje estou convicto que o melhor forramento é a camada híbrida formada entre o adesivo e a dentina. Só uso hidróxido de cálcio ou ionômero nas cavidades muito profundas, numa área bem reduzida onde se estime estar a menos de 1mm da polpa.
  5. Faça sempre uma excelente polimerização. Se o seu foto não é potente o suficiente, e vc não pode adquirir um que seja satisfatório, saiba que é possível ter os mesmos resultados aumentando o tempo de aplicação.
  6. Evite incluir bolhas nas restaurações. Elas causam dor com calor pela expansão do ar dentro delas.
  7. Evite polimerizar resinas em largas espessuras. Isso gera muito calor e alta contração de polimerização. Se informe sobre a técnica de inserção incremental de Pollack! Recomendo polimerizar em camadas não superiores a 2mm. Não tenho experiência com as resinas tipo “bulk fill”,  onde se recomenda polimerização em camadas largas. Não posso afirmar se isso gera calor suficiente para provocar sensibilidade pós operatória.

Para minimizar a sensibilidade pós operatória eu desenvolvi o adesivo HUMIDUS BOND. Ele possui ação dessensibilizante e tem ótimo custo-benefício. Disponível na Dental Cremer.

Mesmo empregando todas as dicas deste post não espere ausência total de sensibilidade, posto que ainda há situações desconhecidas onde não é possível determinar as causas.

https://superdont.com.br/adesivos/

Izio Mazur

Cirurgião – Dentista – UFRJ;
Pesquisador e desenvolvedor de materiais dentários;
Aperfeiçoamento em compósitos dentários – EUA;
Pesquisador de tecnologias inovadoras para Odontologia em parceria com a COPPE/UFRJ e apoio da FAPERJ;
Autor dos livros:
Odontologia com fibra – atlas de compósitos reforçados – 2003;
Odontologia com fibra – guia prático de aplicações clínicas – 2011;
Odontologia reabilitadora instantânea com fibra – 2018
Mais de 1000 palestras ministradas no Brasil;
Sócio fundador da SUPERDONT IND. e COM. LTDA.

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